Presidente do Rotary faz um balanço da situação global da pólio
fev. 24, 2021
A PolioNews (PN) realizou uma entrevista especial com o presidente do Rotary International, Holger Knaack, sobre a importância de se apoiar o Pólio Plus, programa de erradicação da poliomielite da organização, e o que o programa tem a oferecer ao enfrentamento da covid-19.
PN: Presidente Holger, muito obrigado por reservar um tempo para falar conosco. Depois de um ano em que estamos vivendo com esta pandemia de covid-19, qual é a sua opinião sobre a situação atual e também quanto à erradicação da poliomielite?
HK: Aprendemos algumas lições no último ano, como a importância de contar com sistemas fortes de saúde, algo a que muitos países como o meu, a Alemanha, não dão o devido valor. Tais sistemas são vitais ao funcionamento de qualquer sociedade, e o seu colapso conduz à fragilidade social. As crianças de áreas com sistemas de saúde deficientes correm maior risco de contrair doenças como a poliomielite. Portanto, o fortalecimento dos serviços de saúde precisa ocorrer sistematicamente em todos os lugares. Só assim teremos a chance de prevenir a ocorrência de doenças.
A segunda lição foi a importância do conhecimento científico, já que ainda há muitas incertezas com relação à covid-19. Como realmente se dá a transmissão do vírus? Quem são e onde estão os principais transmissores? Qual a difusão e as consequências das infecções assintomáticas e que papel elas desempenham na pandemia? E, o mais importante, como proteger a população sem impactar demasiadamente seu cotidiano? Estas são as mesmas perguntas que foram feitas sobre a pólio nos anos 50. Naquela época, as pessoas sentiam o mesmo medo da pólio que nós sentimos agora em relação à covid. A pólio atingia indiscriminadamente as comunidades, sem nenhuma razão aparente. Os pais mandavam seus filhos à escola de manhã e à tarde eles voltavam para casa infectados. A falta de conhecimento assusta muito em situações como essas e revela nossa incapacidade de implementar estratégias com mais eficácia. O que a poliomielite nos mostrou é o verdadeiro valor do conhecimento científico. Sabemos como a pólio é transmitida, onde circula, quem está em maior risco e, o mais importante, temos as ferramentas e o conhecimento para proteger a população. Este conhecimento nos permite direcionar estratégias de erradicação da maneira mais eficaz, e o resultado é que a doença foi vencida nas últimas décadas e está confinada a apenas dois países. Recentemente, a África foi certificada como livre de todos os tipos de vírus selvagem da poliomielite, uma conquista tremenda que não teria sido possível sem o conhecimento científico nos guiando. Enquanto buscamos respostas para a covid, precisamos continuar nos concentrando nas operações de erradicação da pólio. Com a otimização dos processos de implementação, o sucesso virá.
E a terceira lição talvez seja a melhor: não podemos sustentar indefinidamente os trabalhos de erradicação da pólio. Estamos na “reta final” há vários anos, mas este último 1% que resta do caminho continua sendo um desafio. Em 2020, as operações de combate à pólio sofreram interrupções por causa da covid, e jamais saberemos como e quando será a próxima crise mundial de saúde. No ano passado o programa Pólio Plus foi nocauteado, mas não vencido. Voltaremos mais fortes e acabaremos com a poliomielite. Todos nós devemos nos comprometer novamente e redobrar nossos esforços para livrar o mundo dessa doença.
PN: Você poderia falar um pouco do seu chamado à ação para a rede mundial de associados do Rotary usar suas experiências com o Pólio Plus no combate da covid?
HK: Nossa rede global de mais de 1,2 milhão de voluntários em todo o mundo tem sido utilizada de forma consistente e sistemática para envolver todos na erradicação da pólio, desde chefes de estado até mães nas áreas mais remotas da Índia. Ajudamos a garantir o fornecimento e distribuição de vacinas, e aumentamos a confiança das pessoas quanto à vacinação. No processo, aprendemos muitas lições sobre o que é preciso para enfrentar uma ameaça à saúde pública e estas mesmas lições devem ser aplicadas em resposta à covid-19, especialmente agora com a distribuição das vacinas. É por isso que achei importante convidar nossos associados para aplicar suas experiências no enfrentamento da covid-19.
PN: Qual tem sido a reação das pessoas?
HK: Eu diria que extremamente positiva. Na Alemanha, Suíça, Liechtenstein, Áustria e outros países europeus, os rotarianos estão participando ativamente da vacinação contra a covid. Como ela é gratuita, as pessoas vacinadas são incentivadas a doar o custo do que a vacina lhes custaria - aproximadamente US$25 - ao Pólio Plus. Isto tem um benefício duplo: elas ficam protegidas da covid e contribuem à continuidade das atividades de erradicação da pólio, o que é extremamente importante agora, pois a pandemia tem causado interrupções e atrasos significativos nos serviços de saúde. Estima-se que mais de 80 milhões de crianças em todo o mundo estejam correndo maior risco de contrair doenças como a poliomielite.
PN: As Comissões Nacionais Pólio Plus do Rotary tem apoiado uma resposta global à pandemia nos últimos 12 meses?
HK: O “Plus” do Pólio Plus representa o que fazemos a mais em termos da erradicação da pólio, como o suporte à saúde pública. Estou extremamente orgulhoso do nosso trabalho para dar fim à poliomielite. Diria que tenho mais orgulho do “plus” - ou valor "agregado" - que proporcionamos: coisas em grande parte invisíveis, mas que são muito evidentes e concretas. De fato, estamos engajados ativamente na resposta à pandemia, particularmente em áreas de alto risco, como o Paquistão e a Nigéria. Temos apoiado o rastreamento de contatos, educado comunidades sobre higiene e medidas de distanciamento, e facilitado a realização de testes. Temos um conjunto único de experiências e, mais importante, uma infraestrutura e rede únicas para lidar com crises desse tipo. Nosso engajamento comunitário é amplo e vai muito além do combate à pólio.
PN: Mais uma vez, obrigado por falar conosco. Você tem algum comentário final?
HK: Se não sabíamos antes, certamente sabemos agora do perigo das doenças contagiosas e como se alastram com rapidez. A pólio não é diferente: se não interrompermos sua transmissão o vírus não ficará confinado ao Paquistão e ao Afeganistão. A doença voltará com tudo e, dentro de dez anos, teremos novamente 200.000 crianças paralíticas a cada ano no mundo. Isso seria uma catástrofe humanitária que deve ser evitada a todo custo.
E isso pode ser evitado. Após sofrer interrupções no ano passado, o Paquistão e o Afeganistão estão reiniciando suas atividades de forma intensificada e emergencial. Devemos assegurar que os recursos financeiros sejam mobilizados para acabar com a pólio de uma vez por todas. Estou particularmente orgulhoso de que o governo alemão confirmou 35 milhões de euros adicionais ao esforço, junto com 10 milhões de euros adicionais para financiar atividades na Nigéria e no Paquistão. Tal apoio é crítico, dado que mais de 80 milhões de crianças correm maior risco de contrair doenças como a pólio devido às interrupções causadas pela covid-19. Como resultado, no final do ano passado, o Unicef e a OMS emitiram um apelo emergencial para resolver este problema. Ao apoiar a erradicação da poliomielite, os doadores não apenas contribuem ao fim desta doença, mas, também, a emergências de saúde pública como a covid-19.
Temos os conhecimentos técnicos e científicos necessários para eliminar a pólio em todas as partes do mundo. Agora é uma questão de vontade política e social. Se redobrarmos nossos esforços, nada impedirá nosso sucesso.
Considere contribuir ao Fundo Pólio Plus. Sua contribuição será equiparada à razão 2:1 pela Fundação Bill e Melinda Gates.
Publicado originalmente em polioeradication.org.